Afluentes: produtor e pesquisador explora a potência musical da Amazônia em novo projeto
31/03/2025
(Foto: Reprodução) Comandado pelo DJ, produtor e pesquisador musical Zek Picoteiro, Afluentes investiga como as águas influenciam no modo de fazer música na região e inspira a gama de ritmos forjados na beira dos rios. Comandado pelo DJ Zek Picoteiro, Afluentes investiga como as águas influenciam no modo de fazer música na região e inspira a gama de ritmos forjados na beira dos rios.
Divulgação
O DJ, produtor e pesquisador musical Zek Picoteiro, lança nesta segunda-feira (31), o projeto Afluentes, que reúne uma série de podcast, vídeos e site interativo que convidam a um mergulho profundo na potência dos povos que dançam lambada, tecnobrega, tocam tambor e fazem da Amazônia um celeiro musical.
No projeto, Zek percorre o rio Amazonas e alguns dos seus principais afluentes, como o Tapajós e o Guamá. O objetivo é mapear gêneros musicais produzidos no fluxo desses rios, imergindo na cultura ribeirinha para compreender a maneira
O episódio de abertura apresenta a sonoridade mais representativa do Amazonas: o Beiradão. O projeto é impulsionado pelo Programa Funarte Retomada, com produção do Instituto Regatão Amazônia e realização da Fundação Nacional das Artes, do Ministério da Cultura e do Governo Federal.
Em seis episódios, Zek viaja por diversas cidades e comunidades ribeirinhas para entrevistar, vivenciar e documentar como os ritmos da Amazônia se espraiam por furos, igarapés e rios caudalosos.
Além do podcast, Afluentes lança um site contendo um mapa interativo da bacia hidrográfica Amazônica junto a informações sobre gêneros sonoros, artistas e movimentos musicais da região - um repositório central de todos os conteúdos produzidos, artigos, diários de bordo, playlists e sets mixados.
Bacia hidromusical
A série busca compreender como os gêneros e movimentos musicais se organizam na Amazônia - e a relação com o rio é o ponto em comum a todos eles. Para Zek, apesar das especificidades, cada movimento musical na Amazônia tem uma relação profunda com o próprio movimento das águas. A música é criada, inspirada, ouvida e difundida pelo rio.
“Cada gênero musical é como se fosse um braço, um furo, uma fonte, um olho d'água, uma ilha… um afluente dessa enorme 'bacia hidromusical' que existe aqui na Amazônia. Para entender melhor essa relação, eu decidi navegar pelos nossos rios e encontrar pessoas que fazem a nossa música acontecer”, diz Zek.
O projeto resulta de uma década de garimpagem musical feita por Zek - uma soma de discos de vinil, muitos pendrives trocados com DJs de aparelhagens, anos comprando mídia pirata nas ruas de Belém e downloads não autorizados na internet.
Beiradão
O episódio de abertura traz a sonoridade mais popular do Amazonas: o Beiradão. Uma mistura de pitadas de lambada, forró, teclado, guitarra e saxofone, o gênero se tornou um fenômeno que atravessa as comunidades ribeirinhas e se espraia por 17 mil quilômetros de rios, com festas o ano inteiro.
"Beiradão", o episódio de estreia do podcast, pode ser ouvido em todas as plataformas digitais por meio do site.
Inicialmente, o Beiradão não era reconhecido como gênero musical, mas sim como um local onde a música acontecia. Os festejos reúnem os moradores ribeirinhos, com música, dança, jogos e atividades ligadas à colheita de alimentos como mamão, açaí e mandioca.
O Beiradão, um gênero ainda em evolução, é uma expressão cultural rica e singular que representa a identidade do povo amazonense.
“É inegável que o beiradão é um fenômeno cultural. Não é uma cultura sazonal, é o ano inteiro tocando essa música, que é uma mescla cultural muito grande. Não são só as bandas, os saxes, é também a culinária, a caldeirada de bodó, o jaraqui, o linguajar, o lado religioso, que são os festejos, tudo isso que culmina na música. Uma cultura muito rica”, revela Hadail Mesquita, um dos principais artistas da cena, que comanda o “Portal Beiradão”, canal no Youtube com mais de 10 milhões de visualizações e que concentra as maiores expressões musicais do gênero.
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